Por: Wagner França
Após mais de duas décadas atuando diretamente no Comércio Exterior, aprendi que toda crise traz consigo um leque de possibilidades para quem está atento e preparado.
O recente “tarifaço” imposto pelo presidente norte-americano Donald Trump reacendeu os debates sobre protecionismo, soberania e os impactos no comércio global. Mas será que esse movimento representa apenas perdas ou pode também abrir novas oportunidades para o Brasil?
O primeiro ponto que precisamos entender é que não será o exportador brasileiro quem pagará essas alíquotas mais altas, mas sim o importador norte-americano, que terá de arcar com tributos maiores para adquirir produtos de países atingidos pela majoração. Em outras palavras, o “cafezinho do americano ficará um pouquinho mais salgado”.
O impacto, portanto, será sentido no bolso dos consumidores dos EUA. Com os produtos brasileiros podendo ser taxados em até 50%, há uma tendência de que os norte-americanos comecem a buscar novos fornecedores, substituindo itens que antes compravam do Brasil.
Historicamente, medidas protecionistas como essa geram instabilidade no curto prazo. No entanto, se olharmos um pouco mais além, veremos que essa barreira pode abrir novas oportunidades para o Brasil, como a ampliação de mercados e a redução da dependência de um único comprador.
Sei que muitos podem pensar que isso é otimismo excessivo — afinal, sugerir que deixar de vender para os Estados Unidos pode ser bom negócio parece contraditório. Mas, sim, trata-se de uma oportunidade, principalmente a médio e longo prazo.
Hoje, exportamos cerca de 4 mil tipos de produtos para os EUA. Embora a lista divulgada pelo governo americano exclua 694 itens da tarifa extra de 40%, ainda restam mais de 3.300 produtos que sofrerão a sobretaxa e enfrentarão dificuldades de comercialização com os norte-americanos.
Esses produtos, no entanto, poderão ser redirecionados para outros mercados, contribuindo para uma maior diversificação das exportações brasileira. É verdade que esse processo de transição pode levar alguns meses, mas também é provável que o mercado norte-americano continue adquirindo parte desses produtos — ainda que em menor escala — dada sua reconhecida qualidade e competitividade.
Com uma estratégia bem definida, o exportador brasileiro poderá aproveitar o momento para explorar novos destinos, pulverizar sua base de clientes e reduzir a dependência de grandes compradores.
Além disso, o redirecionamento de parte das exportações pode resultar em maior oferta interna de insumos e matérias-primas, beneficiando a indústria nacional com preços mais atrativos e maior disponibilidade de materiais.
Cabe a nós, profissionais e empresários, observar com atenção o cenário atual, ajustar rotas e aproveitar o novo espaço que está sendo aberto. O tarifaço do Trump pode até parecer, num primeiro momento, um revés — mas, com visão estratégica, ele pode ser o empurrão que o exportador brasileiro precisava.